quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lembrou daqueles últimos momentos, nem fazia tanto tempo assim que havia partido novamente, com promessas de não voltar por um bom tempo. Foram dias agradáveis, apreciavam a companhia mutua, havia uma tal de cumplicidade naqueles goles de cerveja no bar da praça, em baixo do guarda-sol, eram iguais agora, com experiências diferentes, mas talvez a mesma cabeça nas nuvens, ou melhor, no céu. Lembrou dos objetos estranhos sempre presentes naquela casa, no enorme pedaço de coral, no berimbau, numa dentadura achada na areia da praia, no quadro que foi achado em um bordel, na caixa de fotos, no colar de conchas pendurado na parede, nos livros estranhos em algum outro idioma. Lembrou, de quando havia um sofá e uma poltrona, lembrou do dia mais agradável de todos, quando tinha 6 anos e estava sentada nessa poltrona, assistindo qualquer coisa na televisão atentamente, quando surge uma cadelinha branca pulando e lambendo, o que pode fazer foi perguntar "ela vai morar aqui agora?", meu pai respondeu que ela já morava lá há algum tempo e que se chamava Penta. E ela era linda quando corria atras do rabo, quando tentava saltar pela janela ou quando ia me acordar com grandes lambidas, era uma peste quando comia os meus brinquedos e eu os via destroçados no seu coco, comeu todos minhas miniaturas da Turma da Mônica. Mas era mais linda quando ia para a praia e nadava divinamente, quando ia caminhar todas as manhãs, sem a coleira, e não arranjava nenhuma encrenca ou quando ia correndo atras da bicicleta, era linda e abatida quando deu a luz na cortina. E esteve reluzente em seu último dia, enquanto fazia as outras pessoas chorarem.

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