domingo, 6 de junho de 2010

Uma vez eu contei uma mentira grave, disse para uma menina de 8 anos que o mar se recolhia à noite, conforme a maré baixava. Eu disse bem assim:
-Tá vendo aquela linha ali? Bem longe? Lá é o fim do mar, é para lá que ele vai para descansar, mas quando a gente voltar aqui amanhã, ele já vai estar de volta.
Mas aí ela hesitou e perguntou:
-Mas por que no ano novo a gente veio aqui à noite e ele tava aqui?
Fui sagaz e disse:
-É porque é um dia de festa, e o mar também quer participar com a gente.

Lembrei disso no fim da tarde, quando fui levar uma "tapóer" para uma amiga da minha mãe da outra rua, já que estava de bicicleta, resolvi ir até a praia, o mar estava bravo, mas a maré estava baixa, parecia que ele ia se recolher para o merecido sono, porque ele nunca para, as pessoas sempre estão lá para admirar, ele tem a enorme responsabilidade de refrescar quando as pessoas estão com calor, de ficar alegre com turistas na temporada, com trazer calma para as almas perdidas que aparecem lá nos fins de tarde de feriados gelados, às vezes ele leva algumas pessoas, outras vezes elas deixam ser levadas. Eu sempre sonho que ele me prende, ele sempre me leva, mas acho que ele é sádico, sempre me dá esperanças de conseguir nadar até a margem, mas sempre manda uma de suas ondas me sugarem de volta, deve gostar de ver meu desespero ao bater as pernas e braços, em puxar o ar. Então me entrego, deixo que me leve. Acordo tentando respirar todo o ar do mundo de uma só vez, procurando partes minhas que ficaram nos caminhos, que nunca foram muitos, procuro coisas que me apontem o que me fez ser o que sou agora, mas eu também já não sei.

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